domingo, 7 de março de 2010

VOZ DO VENTO




Uma flor existia, apenas existia, muda e inexpressiva, na beira de um lago próximo a montanha.

Mas ela não sabia que existia, nem sabia quem era. Existia apenas dentro do eterno silêncio e isto lhe bastava.

Desejava ficar ali, imóvel, fazendo parte apenas dela mesma.

Não havia sentido vontade de dar nome as coisas, nem de experimenta-las.

O importante era se integrar completamente ao nada, porque este nada era toda a realidade que ela percebia.

Queria permanecer anônima dentro do inexistente, fora do tempo e do espaço e fora dela mesma.

Mas esta flor inconsciente dela mesma, foi acordada pela voz do vento.

Nesse dia descobriu que havia alguma coisa a mais existindo fora dela.

Lembrou que já havia recebido aquela visita antes em seu corpo, mas esta era a primeira vez que se sentia tocada realmente por dentro. E, quando o vento sussurrou nos seus ouvidos, lindas palavras, a flor sentiu-se viva pela primeira vez.

Escutou aquela voz tão doce falando que ela era uma rosa branca, cuja pureza brilhava como uma estrela solitária na imensidão da noite. Atônita com aquela revelação, debruçou-se sobre o lago para examinar aquele reflexo luminoso que nadava lá dentro.

E, a partir daquele momento, passou a existir realmente e a saber quem era.


A flor reconheceu a vida que pulsava dentro e fora dela.

Agora podia sentir o brilho do sol, o frescor da chuva.

E, ouvindo o canto dos pássaros aprendeu a cantar a sua própria canção.

Ansiava agora pela carícia do vento da montanha.

Como uma noiva radiante em seu vestido branco, esperava pelo noivo prometido, na esperança de conseguir ver o seu rosto, e dançar com ele a música do amor eterno.

Mas o vento sábio nunca mais voltou.

Compreendeu que o amor da rosa, deixava-a vulnerável demais.

Sabia que se aproximando novamente, ela acabaria por desvanecer nos seus braços.

A rosa branca chorou. Chorou de saudade. Chorou por amor. Chorou com aquela brusca separação.

Triste, sabendo que nunca mais sentiria a presença do vento no seu corpo, a rosa ainda se encantava com a magnitude do seu amigo querido.

Agradeceu-lhe o valioso presente que havia recebido dele, o presente de ter lhe dado ela mesma.

Secou as lágrimas e ergueu o olhar para o azul do céu, pois sabia que lá, em algum lugar, alguém olhava para ela com ternura.

E, mesmo que jamais o encontrasse de novo, sentia que ele estaria com ela para sempre, pois as suas vozes haviam se misturado dentro dela, agora eram uma única voz brincando pela montanha sagrada.

Um comentário:

  1. Oi Suelen, belo post, passa lá no meu blog quando der, bjo.

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